julho 27, 2023

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 “A indústria do futuro é verde”, afirma presidente do INSTITUTO AMAZÔNIA+21

ESCrito POR: Assessoria de Imprensa

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Gerar e impulsionar negócios inovadores na Amazônia Legal, estruturados para o bioma amazônico e comprometidos com os princípios ESG, é um dos objetivos do INSTITUTO AMAZÔNIA+21, lançado em setembro de 2021, com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e das 9 federações das indústrias dos estados que compõem a região.

Nessa entrevista, o presidente estratégico do Instituto, Marcelo Thomé da Silva Almeida, detalha a proposta do movimento, comenta as possibilidades de negócios na região e explica os projetos que estão sendo desenvolvidos pela entidade. “Seremos o elo entre quem produz e conhece o local e aqueles que têm interesse e compromisso de investir de maneira sustentável, tornando-se aliados na conservação da Amazônia”, afirma Marcelo Thomé.

Qual o propósito da criação do INSTITUTO AMAZÔNIA+21?

Marcelo Thomé. A Amazônia é um mundo rico e díspar. Não se restringe à floresta. Quase 24 milhões de brasileiros ali convivem com desafios de futuro e passivos do século 19, como saneamento deficitário. Há dureza, mas também oportunidades imensas e inovadoras. O Instituto vê a Amazônia e a indústria verde como alavancas do crescimento da região e do país. Mas com um diferencial significativo. Será o empresariado amazônico a pensar sua própria realidade. O Instituto fará o movimento de dentro para fora. Vamos gerar e impulsionar projetos de grande impacto, a partir do que é próprio à região. Seremos o elo entre quem produz e conhece o local e aqueles que têm interesse e compromisso de investir de maneira sustentável, tornando-se aliados na conservação da Amazônia. O protecionismo pelo isolamento ou o desenvolvimento a qualquer custo são temas superados. Produziram poucos resultados e com mais efeito negativo do que positivo. Vamos virar essa chave.

O que faltava para essa mudança de chave?

M.T. Faltavam políticas claras para a Amazônia. Nosso Instituto é a reafirmação do compromisso da indústria brasileira com a região. Essa é a visão da Confederação Nacional da Indústria e das 9 Federações de Indústria que compõem e conhecem profundamente a Amazônia Legal. Nascemos com foco na promoção de negócios inovadores, orientados pelos princípios ESG, que devem ser estruturados para o bioma amazônico, uma adaptação necessária dessa profusão conceitual para que dialogue efetivamente com as demandas sociais, ambientais, a maneira de se produzir e com a identidade econômica da região. Precisamos olhar os diversos recortes das microrregiões que compõem a Amazônia, porque ela é muito diferente dentro de si mesma, como também diferem os diversos setores produtivos que ali operam.

Como serão pensadas as soluções?

M.T. Olhando cada local e conversando com o povo dali. Porto Velho é uma cidade com 520 mil habitantes, mas eu tenho comunidades com 2 mil habitantes, completamente isoladas. Tenho que ter soluções diferentes para tratar a questão da água, do esgoto e do lixo, do resíduo sólido urbano. O déficit de infraestrutura é um desafio adicional para quem está na Amazônia. Existem diversas áreas com péssima qualidade de conexão e problemas do ponto de vista de logística. Essa é a questão. A região precisa do desenvolvimento de uma inteligência própria da engenharia brasileira, que promova uma infraestrutura adequada ao espaço. Por exemplo, precisamos de pavimentação asfáltica adequada ao clima amazônico. Senão, ano após ano, teremos que recuperar essa pavimentação. É essencial uma infraestrutura que permita rapidez no escoamento da produção, o que requer estar adaptada às particularidades da região. Precisamos igualmente investir em pesquisa e inovação, isso é vital para consolidar o desenvolvimento, seja para atender às demandas existentes, seja para promover a nova indústria verde. No Instituto, vamos traçar cenários, fazer prospecções, buscar financiadores e canalizar recursos para projetos que façam a diferença para a comunidade. Com o pipeline desses projetos na mão, apresentaremos aos governos nacionais e estrangeiros, procuraremos fundos privados e públicos e as grandes empresas dispostas a investir localmente.

Por que decidiu capitanear essa iniciativa?

M.T. Sou da ação, da execução e do diálogo. Inquieto. Arquiteto urbanista, formado no Rio de Janeiro, mas que, desde cedo, migrou para essa região. Conheço esse espaço, que percorri palmo a palmo nos inúmeros rallies e enduros que fiz. Rodei de moto a América do Sul inteira. Fui rodando e observando, característica do arquiteto. Vi como as pessoas vivem. Enxerguei a pobreza da base da pirâmide. Me deparei com uma dura realidade. Aliás, isso é a cara da Amazônia, a desigualdade social marcante. E decidi contribuir para mudar essa situação, só que a partir de um ponto de vista produtivo e não apenas de narrativa. O Instituto, ao impulsionar negócios locais, com a gente do local, estará contribuindo para gerar riqueza para as comunidades. O trabalho na Federação das Indústrias de Rondônia (FIERO), que presido, é muito importante para a região. Agora, com o Instituto, maximizo essa agenda, incluindo as diferentes lideranças locais, agentes da comunidade, da academia, especialistas. Amplio o foco e o diálogo, processo que se iniciou com a realização do Fórum Amazônia +21 e a valorização da agenda ambiental como agenda de negócio. A essência do Fórum foi ser plural em sua visão.

Quais são os eixos pensados para o desenvolvimento sustentável?

M.T. A CNI elaborou estudos baseados em quatro eixos para o desenvolvimento sustentável. São eles, a transição energética, precificação de carbono, economia circular e conservação florestal, temáticas prioritárias. Temos projetos em desenvolvimento como o do biogás, a partir de substratos industriais da indústria amazônica e resíduos sólidos urbanos. O que é um problema para a indústria passa a ser uma solução para produzir energia a partir disso, podendo chegar, em um segundo momento, a hidrogênio verde. Outro projeto é o da integração lavoura, pecuária e floresta. Transcende o escopo da indústria tradicional, mas é compromisso do Instituto olhar as cadeias produtivas na Amazônia. Esse projeto tem foco na recuperação de áreas degradadas. O que reforça que é possível produzir na Amazônia sem avançar um milímetro sobre a floresta. A antecipação de metas de neutralidade das emissões do Brasil para 2050 e a intenção de zerar o desmatamento ilegal até 2030 são positivas. Mas é preciso construir um plano de ação efetivo para garantir o cumprimento das metas. A pauta ambiental deve compor uma estratégia de estado que vá além de planos de governo e que esteja integrada a uma proposta de desenvolvimento socioeconômico do país e da Amazônia. A atuação conjunta da sociedade civil, de empresários e de governos com compromissos mais ambiciosos e a cooperação nessa agenda são o caminho para alcançarmos a neutralidade climática em 2050.

Onde estão as oportunidades de negócio?

M.T. Não há dúvida de que estão na biodiversidade. Essa indústria tem a cara da Amazônia. A indústria do futuro é verde e enxerga no bioma a base para o estabelecimento de novos empreendimentos absolutamente sustentáveis. Cito também o projeto relacionado à monetização dos ativos florestais para o setor de base florestal, tanto para produtos madeireiros quanto não madeireiros. Quanto vale efetivamente os créditos de carbono produzidos por um determinado território ou uma determinada floresta? E como a gente pode transformar isso em dinheiro para que ele chegue no chão de fábrica? E ao mesmo tempo remunere tanto o dono da terra quanto o estado para começar a gerar riqueza? Temos que pensar alternativas econômicas em substituição ao simples desdobramento de madeira, que é você tirar árvore e transformá-la em peças de madeira ou produtos madeireiros. Outro exemplo de projeto no qual estamos trabalhando é o das áreas degradadas. Há um estoque de terras, em diversas regiões da Amazônia, que merece um novo olhar. O avanço da fronteira agrícola em diversas regiões ocorre na recuperação dessas terras. E se nós tivermos soluções que integrem lavoura, pecuária e floresta, teremos mais atividade econômica desenvolvida no mesmo território.

O benefício é para todos na cadeia produtiva?

M.T. As médias e grandes empresas têm capacidade financeira e acesso à tecnologia para fazer a transição e adequar seus processos produtivos a esse nível de automação que caracteriza a indústria 4.0, e já o fizeram. Os pequenos negócios, pequenas indústrias que são percentual importante do tecido empresarial, têm muita dificuldade. Na Amazônia, 98% do setor é composto por pequenas indústrias com enorme dificuldade de fazer essa migração. Apenas em Rondônia, a indústria é responsável por 18% da geração de riquezas do estado. A indústria local é fundamentalmente ligada ao setor de alimentos, setor de energia e setor mineral. Uma indústria que tem a cara da Amazônia e que tem na Amazônia a obtenção dos seus insumos. Opera e produz em áreas onde a vegetação foi suprimida na década de 70. São negócios absolutamente sustentáveis sob a ótica contemporânea, que não agridem o bioma e respeitam a legislação. As regras são cumpridas. Precisamos ajudar especialmente essas pequenas empresas e inseri-las nas cadeias globais de valor.

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