Uma saída inovadora para a Amazônia

Fernando Penedo Líder de Operações e Projetos do Instituto Amazônia+21, é mestre em Políticas Públicas

Fernando Penedo
Líder de Operações e Projetos do Instituto Amazônia+21, é mestre em Políticas Públicas pela UFABC, com MBA em Gestão de Negócios Sustentáveis pela UFF.


É a economia que salvará a Amazônia. Não qualquer economia, mas economia verde. Aquela que, além de movimentar diferentes capitais e atores, melhora os indicadores sociais, usa eficientemente os recursos da natureza sem comprometer as gerações presentes e futuras, e dialoga com a urgência dos nossos tempos: o enfrentamento da crise climática com seu poder de destruição e de geração exponencial de perdas econômicas, sociais e ambientais.

economia verde não nascerá apenas da força do Estado, do sistema financeiro ou de um ou outro ator e projeto isoladamente, aqui e acolá, apesar da importância dos bons exemplos para criar efeitos demonstrativos de viabilidade. Ela será resultado do esforço coordenado de múltiplos atores, de variados setores, com poder de agregação e de atuação nas oportunidades e nos riscos, criando escala. Os riscos, aliás, são inúmeros – considerando os de mercado, os legais, os sociais e afins, mas principalmente a intensa e infelizmente bem-sucedida, até aqui, atividade criminal na Amazônia.

É nesse espírito, até ambicioso, de apoiar a construção dessa economia verde amazônica que o Instituto Amazônia+21 desenvolveu, ao longo dos últimos 20 meses, uma Facility de Investimentos Sustentáveis (Fais), uma estratégia para adequar e organizar oferta e demanda por pipeline e investimento, enquanto propicia ambiente integrado para cada stakeholder, aumentando a assertividade e a segurança jurídica das operações. O objetivo principal é alavancar setores estratégicos da economia verde e fortalecer a sociedade civil para dela se beneficiar.

A Fais se estrutura em quatro plataformas de trabalho que operam simultaneamente. A primeira trata dos esforços de engajamento, que identifica e estabelece relações formais com atores de diferentes setores que podem desempenhar funções nas operações. Ou seja, estamos falando de diferentes tipos de investidores, empreendedores, comunidades, ONGs, empresas, bancos, gestoras de ativos etc.

A segunda plataforma é a de conhecimento, que suporta toda e qualquer operação com coleta e análise de dados, sistematizações, relatórios e recomendações, auxiliando na gestão de riscos.

A terceira plataforma é a de assistência técnica. Sua principal função é criar ou apoiar originadores de iniciativas, projetos ou negócios destes setores estratégicos da economia verde que precisam de investimentos, com modelagens econômico-financeira, jurídica, técnica-operacional, potencialização dos impactos socioambientais e balanceamento de riscos.

Por fim, a quarta plataforma é a de investimentos, para acolher projetos ou negócios que receberam assistência técnica, correlacionando-os com os veículos ou instrumentos financeiros mais adequado à operação – como participação, financiamento, recebíveis, debêntures, bonds e outras classes.

Nessa estrutura, há diferentes tipos de capital: comercial e concessional retornável e a fundo perdido. Cada capital realiza uma função, em uma arquitetura referenciada nos modelos de finanças híbridas, ou blended finance. Nessa arquitetura, recursos não-reembolsáveis são aplicados no que chamamos de Fundo Catalítico Amazônia, cuja função estratégica principal – além de estruturar os veículos ou instrumentos de investimentos, equilibrar a relação risco x retorno e criar um ambiente de alta integridade – é entregar projetos financiáveis, impactantes e com risco controlado, despertando o interesse de inversão do capital comercial e outros concessionais.

Os recursos não reembolsáveis – leia-se, especialmente, a filantropia – ganha, portanto, contornos sistêmicos, inovadores e estruturantes ao fechar lacunas e criar condições de financiamento ao desenvolvimento sustentável, alavancando a nova economia promotora de justiça social. Nada mais importante.

Hoje não tem nada parecido no Brasil com essa estratégia, que é uma contribuição significativa do setor privado brasileiro. Estamos trabalhando para que nos três primeiros anos de operação da Facility tenhamos um Fundo Catalítico que reúna R$ 80 milhões não-reembolsáveis, com o objetivo de atrair outros R$ 620 milhões entre concessionais reembolsáveis e capital comercial.

Não é fácil operar o que está proposto, mas é possível. E se trata de contribuição real para aproveitar as oportunidades – segundo levantamento do Banco Mundial, a região pode vir a render R$ 1,5 trilhão por ano, quase 10% do PIB do país – e enfrentar os grandes desafios da Amazônia. Aliás, não há saída fácil e fórmula milagrosa para o quadro complexo de declínio que observamos. Além da pobreza e da falta de infraestrutura, a Amazônia está perto do seu ponto de não retorno, como os cientistas têm alertado, e um mundo sem a Amazônia é um mundo em que se torna impossível limitar o aquecimento global.

Há, portanto, um sentido de oportunidade e de urgência no chamamento da filantropia para a constituição do Fundo Catalítico Amazônia. Não é a Fais que não vai se realizar se nossos esforços de mobilizar os atores falharem, mas as nossas chances de testar mecanismos inovadores que, se derem certo, e têm tudo para dar, podem transformar vidas e abrir novas rotas de desenvolvimento justo.

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