Plataformas incluem investimento, engajamento, assistência técnica e geração de conhecimento para a promoção do desenvolvimento sustentável do bioma.
.
Presidente do Instituto Amazônia+21, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero) e vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), onde preside o Conselho Temático de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Coemas)
.
.
O Instituto Amazônia+21 tem pouco mais de dois anos de existência, mas irá à Conferência das Partes (COP) de Baku, em novembro, integrando a representação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), apresentar ao público global o cerne de sua operação, uma plataforma que acreditamos ser criativa, inovadora e disruptiva na resposta a problemas complexos e urgentes, como o enfrentamento dos desafios da amazônia.
.
Uma solução que pode ser “exportada” a países com biomas importantes como o nosso, a exemplo dos encontrados no continente africano. Aqui como lá, e em outras nações, vivenciamos atônitos a emergência climática e a devastação de ricas biodiversidades. Vivenciamos a queima literal de riquezas e de inúmeras oportunidades de negócios sustentáveis que poderiam, se implantados, ofertar qualidade de vida para milhões de pessoas. São 30 milhões de brasileiros só na amazônia, a grande maioria sem qualidade de vida digna da sua humanidade.
.
A realidade foi escancarada aos nossos olhos. E não se trata mais apenas da amazônia ou de Porto Velho (RO), de onde escrevo, encoberta por fumaça há semanas, fruto de queimadas e seca que já atingiram São Paulo, o coração financeiro do país, e, em sentido oposto, inundaram em passado recente vários municípios do Rio Grande do Sul, para desespero de toda a nação. O que víamos como casos isolados hoje é questão nacional.
.
A Facility de Investimentos Sustentáveis (FAIS) foi por nós idealizada para revolucionar a forma que aplicamos e operamos nosso capital, nossa filantropia e nossos negócios no país. As regras dos bancos e do mercado financeiro estão distantes do Norte, tão diferente do Sul e do Sudeste. A intricada situação fundiária da nossa região e as grandes distâncias e ausências de infraestrutura são barreiras quase intransponíveis para grande parte das operações bancárias. A Fais nasce ancorada em quatro plataformas que incluem investimento, engajamento, assistência técnica e geração de conhecimento, para dar volume e escala na promoção do desenvolvimento econômico sustentável da Amazônia.
.
Essa arquitetura utiliza-se do “blended finance” para viabilizar negócios verdes e convida a filantropia para uma função estruturante, entendendo seu papel catalisador para, junto com o mercado financeiro e diversos outros atores sociais, produzir impactos sociais, ambientais e econômicos positivos. O processo agrega compliance, segurança jurídica, estabilidade institucional e retorno financeiro. Mais de 40 organizações participaram do processo de estruturação da FAIS; foram 18 meses de trabalho com várias reuniões e encontros para aprimoramento do método de trabalho. Hoje, estamos prontos.
.
Iniciamos a operação por meio do Fundo Catalítico Amazônia, que buscará estruturar portfólios de projetos financiáveis e de impacto nos noves estados da região e em diferentes setores como bioeconomia, água, turismo sustentável, agricultura de baixa emissão, florestas e outros. Nossa meta inicial é atrair R$ 80 milhões de recursos não reembolsáveis para destravar outros R$ 620 milhões, que serão investidos em 260 negócios, num ciclo de três anos: não tem nada tão ambicioso para o bioma. Tenho viajado o país para atrair esse capital e estarei na COP para provar que uma solução para a Amazônia pode ser uma solução para o mundo.
.
A mobilização de capital envolve diversas fontes, sejam investidores individuais, family offices, fundos e bancos de fomento, instituições multilaterais, doadores institucionais ou individuais e governos. Pela combinação de veículos de investimentos e estruturas catalíticas, é possível criar meios para originar projetos, prover assistência técnica, engajar atores relevantes e produzir conhecimento para impulsionar o desenvolvimento local sustentável. O modelo operacional e financeiro é submetido a um conselho estratégico, e só depois segue para os veículos de investimento tomarem as decisões finais sobre o aporte de recursos. Com segurança jurídica e transparência, os investidores participam de cada etapa do processo.
.
A emergência climática exige sinergia entre ação global e ação local para conter a devastação que observamos nos biomas. Sem o suporte global é impossível deter o desmatamento, acabar as queimadas e promover qualidade de vida nas comunidades locais. Mas é decepcionante constatar que recorrentes anúncios de aportes bilionários nas florestas tropicais não passam disso: anúncios. Em 2015, com o Acordo de Paris, os países endinheirados anunciaram US$ 100 bilhões por ano para conter o aquecimento global em 1,5ºC. Dispensável listar razões que fazem da amazônia um destino prioritário desse capital. Mas até hoje nada disso teve impacto real.
.
Há 25 anos, decidi viver na amazônia. Desde então, constato a cada volta a uma determinada comunidade que a condição de vida das pessoas não melhorou e o ambiente está mais deteriorado. É evidente que o Brasil impôs uma agenda de atraso que tem gerado miséria para a região. Não fomos capazes de conservar a floresta e muito menos de olhar para os amazônidas como deve ser, na centralidade de toda e qualquer política para a região. O alcoolismo, a prostituição e, mais recentemente, o narcotráfico e outras agendas criminosas assolam a vida dessas comunidades. A tendência, se nada de diferente for feito, é piorar. É esse cenário o pano de fundo da atuação do Instituto Amazônia+21, fruto da união das lideranças industriais da Amazônia Legal e apoiado pela CNI, que queremos mudar.
.
Não vamos conservar o bioma apenas impondo “o que não pode fazer”; também não basta orientar “o que se pode fazer”. É sobre “como fazer” que estamos falando agora e agir.
.